Eu fujo do óbvio

Eu fujo do óbvio?

Rapaz, eu achava que fugia. Mas a Ludmila, do Ludmilismos (http://ludmilismos.blogspot.com/) foge mais. Não me perguntem exatamente como eu cheguei ao blog dela. Acho que foi no De Chanel. Mas taí uma mulher que foge do óbvio MESMO! A proposta de vida que ela está assumindo é interessantíssima e, embora eu provavelmente nunca topasse todo radicalsimo dessa postura, defendo até a morte que ela tenha essa opção – e acho muito, mas MUITO pertinentes as observações dela.

Claro que não concordo com tudo. O post dela sobre a Igreja católica e o Aborto, por exemplo. Pra não perder o costume e contrariar as expectativas sobre mim, pessoa não-católica, com um lado espiritual independente de religião (referência saída direta do perfil do Orkut), eu defendo a Igreja Católica defender a postura dela como defende, nos pontos criticados pela Ludmila. Fazendo um ctrl+c ctrl+v do que comentei no referido post, quanto à postura da Igreja em relação a aborto e camisinha, tenho que dizer que:

  1. Pensando na posição das instituições religiosas e na doutrina que o cristianismo prega, há coerência (embora eu não concorde com o radicalismo), em se abominar o aborto sim. Ao considerar as pessoas envolvidas, a Igreja entende que aquele que segue sua doutrina deve segui-la no amor incondicional ao próximo, no direito à vida e no sacrifício pessoal em prol daquilo que é sagrado: a vida humana. Se a vítima de um estupro é inocente, a criança concebida, de acordo com esse raciocínio, também é. A teoria é que se a mãe não tem condições de criar aquele filho, que o entregue para adoção, mas não cometa o que, na perspectiva da Igreja, é um infanticídio.
  2. No caso que indiretamente a Lumila citou – da criança estuprada pelo padrasto – que aconteceu aqui em Pernambuco e foi muito comentado na época, tivemos o radicalismo de um representante da Igreja, mas, dentro da própria igreja, quem se opusesse à pressão exercida sobre a família da menina. Não podiam mais do que a autoridade em questão, mas eram contra. E essa autoridade radical alegava que a menina e sua família tinham o livrearbítrio na questão, e que poderiam escolher o sacrifício e o martírio – já que havia risco de vida – o que seria almejado pelo religioso radical. No ponto de vista da doutrina, a reivindicação era legítima, embora do ponto de vista social seja injusto, devido à pressão que o peso da autoridade religiosa tinha no contexto em que essas pessoas viviam/vivem. Ideologias que se confrontam com fundamentos em princípios éticos-morais sólidos são um problema para quem não compartilha com seus fundamentos. Eu entendo o religioso, entendo o médico, entendo a família e morro de pena dessa família, dessa menina e dessa criança, devastadas por um crime hediondo, a pedofilia, o único que me faz pensar muito sobre a validade da pena de morte.
  3. Falando em radicalismo, é evidente que é nocivo (principalmente quando se pressiona pessoas que tiveram pouco acesso à educação a abdicarem de direitos que a lei lhes reserva sob a ameça de uma punição do ponto de vista da religião que é o mesmo que condenar ao inferno). Só que o radicalismo, em determinadas instâncias, parece ser necessário. Se a Igreja é radicalmente contra o aborto e ainda temos milhões de pessoas em todo mundo que se dizem católicas e cometem aborto MESMO TENDO ACESSO a métodos contraceptivos e a informação, imagina se ela não se opusesse com veemência? Se a Igreja Católica incentiva a castidade e, consequentemente, os relacionamentos fixos, duradouros, baseados em afeição e admiração e não em prazer e – em virtude do entendimento de que o relacionamento conjugal deve ter essas bases, validadas no casamento – há tanta promiscuidade, tanta desvalorização das relações humanas, imagina se ela defendesse, publicamente, que as pessoas devem, sim, usar camisinha?
  4. Não, eu não estou afirmando com isso que homem e mulher têm que ser santos e casar virgens. Só que parece que hoje é uma obrigação vivenciarmos relacionamentos que servem apenas para satisfazer essa necessidade do corpo. E isso reduz muito do que somos: humanos, e não apenas bichos vivendo os instintos.
  5. Embora eu não concorde com muitas posturas da instituição que é a Igreja Católica por ver nelas uma série de males sociais sérios (controle de natalidade de famílias pobres, prevenção à AIDS e DST), há uma filosofia por trás dessas posturas coerente com a interpretação de mundo que o catolicismo tem. Coerente e, se considerarmos os princípios que a fundamentam, válida, humanística, mas, por isso mesmo, muito difícil de ser atingida. Sacrifício pessoal levado a sério envolve martírio, e martírio é coisa para poucos, para santos. Não sei se para humanos.

Pensando bem, acho que quem foge do óbvio aqui ainda sou eu. 😛

PS: O WordPress tá frescando para colocar os links no texto. Quando a TPM dele passar eu ponho direto.

Descobri esse blog hoje. Ele tá no início, como o meu, o que é interessante se alguém desejar acompanhá-lo. Adorei o título, adorei a perspectiva de mundo e adorei a linguagem divertidíssima da autora. Recomendo!

Que eu odeio carnaval já ficou óbvio. O que não ficou óbvio é que eu defendo o carnaval e sua existência com unhas e dentes.

Por quê?

  1. Porque não é por eu não gostar de uma coisa que necessariamente ela é ruim. É ruim para mim, ponto. Se deixa outras pessoas felizes, vale a máxima da filosofia contemporânea no nosso zeitgeist pós-moderno-ultraglobalizado-e-internetizado: Ado, aado, cada um no seu quadrado!
  2. Porque eu admiro as manifestações culturais do carnaval. Eu admiro as fantasias bem boladas do carnaval de rua, eu gosto de frevo (tocado por Spock, então…), não tem coisa mais linda visualmente do que um caboclo de lança e todo aquele colorido. Eu me emociono com a história de envolvimento que as comunidades têm com a festa. Se a Literatura é a minha cachaça e ela é absolutamente inútil para o mundo prático, que o Carnaval também seja e que seja bom, como diria o ET no fim do filme para a irmãzinha do Eliot.
  3. Porque eu adoro esse descanso prolongado. Principalmente com esse calor duzinferno (como escreveria meu amigo Bruno). Parafraseando As três mulheres do Sabonete Araxá: Meu reino por um arcondicionado!

Agora um breve adendo crítico. Que não é ao carnaval em si, mas a uma manifestação masculina típica do carnaval e que, para minha humilde pessoa, é um problema de educação doméstica que oriunda da preguicite materna/paterna na educação de pimpolhos.

Eu brinquei carnaval em minha vida adulta duas vezes – de onde estou autorizada a falar com propriedade do futum ao qual já me referi anteriormente. E uma das coisas que titia não processava nas ladeiras olindenses é porque tinha tanto cabra mijando AO LADO dos banheiros sanitários e não no local reservado para tanto DENTRO deles. E olha que nem tinha fila.

É óbvio que eu sei que o motivo era a óbvia preguiça. Era simplesmente mais prático não ter que entrar na cabine e fechar a porta.

Assim como é mais prático não levar o pivete quando é pepino torcível para o banheiro de um estabelecimento e incentivá-lo a carimbar o território alheio com sua marca indelével de macho territorialista. Como eu vi uma mãe fazendo sexta-feira na entrada da Renner, no shopping. Porque dá trabalho levar o menino para o banheiro do espaço família, né? Ou fazer ele ir ao banheiro ANTES de sair de casa e, assim, dar tempo de chegar ao shopping com tranquilidade.

Quantas vezes a gente não vê isso todo dia. O pai ou a mãe, porque o menino é pequeno, se ele diz que quer fazer xixi, faz a criança se voltar pro poste/muro/árvore/equivalentes e, como um cachorrinho, carimbar ali sua passagem pelo território do público – na ideia deles, do alheio, do deus-dará.

Pepino livre para mijar, sem as torções traumáticas da boa educação doméstica dá nisso. E viva John People, o bairro mais afastado de Recife, potentado da nossa sinhozice medieva em que o infante manda, e o escravo gari que aguente o relho no lombo olor ureático da manhã nossa de cada dia. Parabéns pelo prêmio Fantástico de Mijódromo Carnavalesco!

Título óbvio, claro, porque uma das coisas mais óbvias, no pior sentido de repetido-repetitório é o Carnaval. Até hoje não contabilizei um que não tivesse:

  1. Transmissão de qualquer baile/bloco recifense/olidense com o “é a irreverência do folião” em cada um dos flashes.
  2. Figurinhas arroz-de-festa que na obviedade da superfície se projetam como candidatos a rei, rainha, príncipe ou sei-lá-que-outro-título do carnaval e exaltam o quanto a cultura carnavalesca é vital em seus outros 361 dias anuais.
  3. Closes ginecológicos-budológicos-e-peitológicos de passistas, destaques e rainhas de bateria no circuito Rio-Sampa, os quais serão devidamente usados para propagar a imagem de país liberal, destino perfeito do turismo sexual de europeus e norte-americanos.
  4. Cobertura completa do Galo da Madrugada, que obrigará os pernambucanos que não dispões de tv por assinatura ou antena parabólica a desligar a caixa ou a resignar-se em, estando em casa porque provavelmente não tem interesse em se meter no furduço, acompanhar centímetro por centímetro o avanço do bloco rua da Concórdia a dentro.
  5. Fantasias de categoria luxo cujas diferenças básicas ficam na cor e no tipo de penas usados naquelas armações gigantescas das costas e da cabeça. E, claro, seus títulos quilométricos e as referências genéricas a qualquer coisa de mitológico-misterioso.
  6. Entrevistas vexatórias de bêbados e/ou pessoas desprovidas da dose diária de simancol/respeito pela autoimagem e/ou pessoas sem condições (culturais, econômicas, educacionais, fisiológicas, sei lá!) de projetar as consequências da exposição em cadeia municipal/estadual.

Sim, é óbvio que eu odeio carnaval. E tenho traumas infantis suficientes para embasar esse ódio. Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, não obstante, preciso frisar que, independente da ojeriza emocional ao reinado de Momo, há questionamentos de ordem racional que não me permitem compreender a ânsia foliã. Siga a minha versão:

  1. Porque devemos ser invadidos por uma alegria súbita e irreprimível em data marcada no calendário? Que mecanismo psico-biológico promove tamanha euforia apenas à vista de bolhinhas vermelhas no calendário?
  2. Considerando-se os gases que emanam da composição futum-de-sovaco + mijo + cerveja + ingredientes extras de caráter ilegal aquecidos a uma temperatura ambiente de 42º (obtida pela incidência dos raios solares em zona tropical no verão + calor humano desprendido pela alta concentração de pessoas) , que elemento é a eles adicionado para que tal amontoado de seres humanos não se incomode com o perfume de colchão-mofado-com-mancha-de-mijo-seco?
  3. Porque os cinco primeiros acordes de Vassourinhas ou do refrão de Hino de Elefantes promove uma reação mecânica coletiva que transforma as pessoas em pogoballs? Que mensagem subliminar emana dessas canções?
  4. Como é possível a sobrevivência de 45 pessoas em uma residência com falta de água, apenas três cômodos + um banheiro único, por cinco dias consecutivos, sem dormir, sem que ali se localizem particularmente os maiores índices de genocídio?
  5. Porque quem faz esse tipo de questionamento é que é estranho?

Entra ano, sai ano, e titia não elabora esse fenômeno brasileiro. Carnaval, o mistério dos, aliás, das quatrocentas estrelas para mim.

E quase um personal Jesus Christ para mim. Uma luz no fim do túnel da minha vida.

Eu já comentei aqui o quanto eu ODEIO verduras? Coisa saudável realmente é uma complicação no meu estilo de vida junkie food/paladar infantil. Comer verdura é um suplício para mim. Quer dizer, era. Porque ele me salvou!

Uma porção, vinte calorias e adeus o gosto da verdura? Apaixonei. Tá, ele não tem gosto de parmesão, aviso logo. Ele lembra mais um molho meio tártaro, mas não é exatamente parecido. Gosto de queijo não tem, mas o gosto que tem é bom e mascara completamente uma boa quantidade de alface e de cenoura.

Abandonar o carboidrato fácil do almoço por uma porção enorme de alface e cenoura sem ter que sentir o gosto das ditas cujas, equilibrar minha alimentação, torná-la mais saudável com apenas 20kcal? Não me belisca, que esse sonho tá ÓOOOOTEEEEEEMO!

Li hoje que um maníaco-infeliz-exemplar-dessa-espécie-deplorável-que-nós-somos (eu poderia ficar séculos xingando esse *&%$#@*&% e de maneira mais direta, mas por enquanto esse é um blog familiar) invadiu a fazenda/granja/casa/coisa que o valha do vizinho, na Austrália, e matou 10 cães adultos e 13 filhotes para vingar a morte do seu próprio cachorro – que teria morrido numa briga de com cães dessa propriedade.

Eu não sei o que me horroriza mais. Se é a quantidade, se é o fato de filhotes terem sido mortos no bolo, se é o motivo, se é o ato isolado em si, apenas na tese dele. Talvez seja esse *&%$#@*&% usar o seu próprio cachorro como desculpa para tanta perversidade.

Não processo como alguém que conviveu com um cão a ponto de sentir a morte dele como algo tão dolorido possa fazer algo assim. Quem convive tão profundamente com um bicho deveria, espera-se ou espero eu, ter aprendido a lição mínima, eterna, que nenhum ente no planeta transmite tão singularmente e de maneira tão fácil e efica. Quem convive profundamente com um cão tem o maior dos aprendizados do amor incondicional.

Sempre tem quem me fale que não é um aprendizado maior do que ter um filho. Bom, não posso comparar, não tenho filho. Mas também não tenho cachorro, nem tive em casa de maneira efetiva. Minha rinite e minha asma impediram. Mas o que sei é que filho é gente, e que gente é um universo muito do complexo. Não sei se amor de filho, de todo filho é incondicional. O que vejo cada vez mais, por sinal, é a exigência de filhos quanto aos pais. Exigência de bens, de privilégios, de comportamento, de tanta coisa.

Que amor de pai e de mãe é incondicional aí sim, isso eu sei. E vou concordar que como exercício de você dar o amor incondicionalmente, o fatal é com uma criança sua.

Mas quando falo da lição de amor dos cães, falo da lição que nós recebemos como exemplo e do exercício da recepção do amor. Grande, pequeno, vira-lata, de raça, não importa: você é eternamente ídolo do seu cachorro. Não importa nada, mesmo: você pode voltar para casa a hora que for, do jeito que for, com as roupas, o status, a comida que for. O rabo balança do mesmo jeito. O olho brilha do mesmo jeito.

Antes que alguém venha me falar de ataque de pit-bull ou coisa parecida, eu tenho que reconhecer: não é todo mundo que tem a disponibilidade de receber essa lição. Cachorro não é pra todo mundo. Cachorro grande e melindroso como os cães de guarda e o pit, que não é de guarda, muito menos.

Por que ter cachorro não é pra qualquer um?

Saint-Exupéry explica. Porque somos responsáveis pelo que cativamos. E não, não é fácil ser responsável. O que mais tem, aliás, é gente que passa a ter cachorro para satisfazer necessidades exteriores. É pra atender o pedido do filho, pra ter um vigia no quintal. Quer satisfazer o filho? Dê um robô. Quer um vigia no quintal? Cerca elétrica e câmera. Não é à toa que todos os anos acidentes acontecem, abandonos acontecem e mortes acontecem. E todos os anos fica aquele coro hipócrita contra a raça X, Y ou Z, os grandes cachorros perigosos – aqueles que um irresponsável, pelo motivo A, B, ou C escolheu ter como sua propriedade.

Enquanto isso no lustre do castelo, eu fico lembrando todos os muito mais numerosos casos de cães abandonados, envenenados, atropelados, mutilados. Cães em que se joga água fervendo, ácido. Cães que são usados por garotos-de-classe-média-alta maníacos-infelizes-exemplares-dessa-espécie-deplorável-que-nós-somos como diversão mórbida, arrastados quilômetros a fio, amarrados em paralamas de automóveis. Cães assassinados covardemente por quem deveria ter aprendido, com o cão, a amar e a perdoar incondicionalmente.

É, eu sou louca por cachorro, como diria uma antiga propaganda da Pedigree. De chorar convulsivamente com Marley e Eu. De querer, pelo menos, arrancar unha por unha e dente por dente desses *&%$#@*&% que maculam mais ainda o pouco de dignidade do adjetivo que nos segue, esse verbete que perde cada vez mais sentido. Humano.

No meu dicionário:

humano. s.m.: 1. Insano. 2. Aquele que desperdiça o discernimento que a razão o possibilita ter. adj. 1. Incapaz de aprender o amor. 2. Egoísta. 3. Covarde.

É, a lua tá linda. Eu vi. E vi num site que hoje ela está na posição mais próxima da Terra de todo ano de 2010. E uma amiga me disse que ela está em Leão. Pra quem não sabe Leão é o meu signo. Pra quem não sabe, eu curto astrologia. Um bom bocadinho. E pra quem não sabe lhufas de astrologia, lua = reações emocionais, leão = drama e eu hoje = tpm.

Perceberam a combinação explosiva? A lua e eu.

O que há de não óbvio nisso? Além das conexões simbólicas que calharam rolar comigo, diretamente, eu sou uma mulher que tem tpm mesmo quando toma anticoncepcional. Vai entender. Variação de humor – da vontade de trucidar um (um= gente ou barra de chocolate daquelas enormes, dependendo da hora) à melancolia inexplicável – inchaço, cólica, dor no peito, alterações digestivas… O básico.

Agora me explica: não era pra os hormônios ficarem na deles? Só pode ser efeito placebo: eu vejo que os comprimidos azuis acabaram e a minha psiquê trabalha lá em modo de hibernação. Aff…

Só espero que esse auge da lua, e da lua e eu, vá embora antes de segunda-feira. Juro que eu não queria ter que encontrar pela primeira vez com menino-buchudo-amarelo com meu atual estado de espírito. Não seria nem um pouco bom para ele. Pode render algumas semanas de pesadelo.

Se não fosse a preocupação com o peso eu ia agorinha me jogar numa panela de brigadeiro. Ah se ia!

Quando eu era adolescente, eu fiz teatro na escola. Participei do grupo por quatro anos. Fazer teatro é uma coisa meio viciante, mesmo já fora da escola eu participava. Por que eu adorava e porque minha melhor amiga estava lá, no grupo.

Um exercício que sempre rolava na oficina era o exercício do ridículo. Você tinha que ir na frente de todo mundo (era gente pra dedéu) e fazer algo ridículo. Aí quando você jurava que estava abafando, o professor provocava: mais, mais…

Fuja do óbvio! – ele gritava.

Ninguém entendia como poderia estar sendo óbvio. Eu lembro de uma menina que foi no banheiro, trocou a calça para o lado avesso, tirou meleca do nariz, falou feito bebê, pulou feito macaco e tudo, tudo era óbvio. E era mesmo.

Hoje, quando eu lembro da palavra óbvio, lembro do grito “fuja do óbvio” e o que me vem sempre à cabeça nem é o exercício em si. É a mensagem do grito que a gente ouvia. Faça diferente, veja diferente, não se deixe acostumar.

Hoje, quando eu olho no espelho, eu sei que eu não preciso desse lembrete. Quando você tem quase trinta, consegue se ver com mais clareza e me vendo com mais clareza (quanta clareza será? Se eu sei que só sei que nada sei, só posso achar que alguma, mais nada) eu sei que não, eu não sou óbvia.

Eu não sou óbvia porque meu temperamento de gato não me deixa ser óbvia. Quem me vê na superfície vê uma criatura certinha, intelectualizada, distante e quando soma 1+1+1 faz = arrogante. E taí uma coisa que eu sei que eu não sou, não mesmo.

Eu não sou óbvia porque eu sou uma incoerência, uma metamorfose ambulante. Você pode me ver hoje no meio da rua toda de preto, com camisa de banda de rock, um olho super colorido, estilo anos 80, amarelo, laranja e rosa-cheguei (tudo ao mesmo tempo) e amanhã eu estou com calça social, camisa alinhada, brinco e colar de pérola, toda certinha. Eu adoro Caverna do Dragão (sim, as reprises) e leio Saramago, vejo Dexter (o seriado do serial-killer) e não suporto ver uma galinha sofrendo numa gaiola apertada. Você me ouve cantar Mamonas Assassinas e Tu és o MDC da minha vida (do Raul Seixas) com a mesma empolgação com que eu canto Chico, Maria Bethania ou Beatles.

Tá, cantar é uma força de expressão. É forçada, eu sei. Mas eu não sou óbvia, então, eu faço isso e estou feliz, tá? 😛

Eu gosto de não ser óbvia. Eu gosto de chocar os outros.

Eu não sou óbvia principalmente quando escolho ser. Quando cito agora que eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, por exemplo.

A minha vida inteira foge do óbvio. E como eu nunca consegui manter um caderno, agenda, diário, blog falando de mim mesma porque eu sou reservada, eu vou é fugir do óbvio de mim e vou me comprometer em manter esse espaço aqui, pelo menos por um ano. Por que blogar pode passar a ser óbvio.

Sobre o que eu vou escrever aqui? Óbvio que eu ainda não sei. Obviedades, como o cotidiano e coisas de que gosto ou que me aborrecem. Ou não. Na hora eu vejo.

Eu fujo do óbvio, mas você (tem alguém aí? Eu bem que desconfiava…) não fuja não. Se a moda pegar vai ficar óbvio demais.

E uma despedida óbvia: xau.

maio 2024
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